O grande segredo acaba por ser não ter nenhum segredo. Quando penso em resumir algo penso no que os meus professores me diziam: “Colocar por palavras tuas o assunto do texto de forma sumária”. De facto parece simples, mas então se eu não perceber nada do que estou a ler, será que as minhas palavras vão encontrar significado.
Parece-me que não, de facto será esse o grande desafio, perceber realmente a generalidade do texto, assim como identificar a perspectiva dominante. Isto será, na verdade, perceber o texto, transportá-lo na nossa memória, processar a informação de forma a obter uma descrição abrangente e que consiga obter o significado do texto.
Mas para que servem realmente os resumos. Em ambiente académico, os professores pedem muito para resumir isto e aquilo, e os alunos normalmente acham uma tarefa aborrecida. Porque será tão aborrecido resumir um texto. Talvez seja porque implica perceber o que estamos a ler, decorar não adianta, copiar muito menos.
É que o resumo identifica-se como uma peça que transparece a essência de um tema descrito. Imagine-se um texto que descreve duas teorias de dois autores, para um mesmo acontecimento, o resumo terá que evidenciar essas duas teorias, compará-las, enquadra-las, apresentar pontos que defendam cada uma, assim como as críticas. Isso exige perceber, por completo, o texto, tarefa que as leituras “diagonais” não permitem.
Será neste ponto que encontramos o objectivo do resumo académico, colocar nos alunos o desafio de entender o texto, e desta forma, conseguir descrever as linhas de orientação. Resultado, o aluno lê várias vezes o texto, pesquisa se necessário, e ao escrever desenvolve ainda mais a sua aprendizagem.PONTOS DE ORIENTAÇÃO
1. Activar conhecimentos de
base do aluno
Cada aluno desenvolve determinadas expectativas em relação ao que está a ler. Isto determina as diferentes visões na elaboração do texto. Imagina-se que cada aluno é diferente e consegue levar para o texto um pouco da sua experiência de anos anteriores. Este conhecimento de base, que tanto ouvimos falar, manifesta-se na criação do texto. É então importante ter isso em conta. É por isso que muitas vezes é importante identificar os conhecimentos que cada um traz consigo (o que foi feito aqui nesta UC, normalmente faz parte da estratégia do professor). O que acontece é que por vezes é necessário reforçar essas experiências, por exemplo, se vamos ler um texto sobre teorias que explicam a evolução do homem, convém entender como e quando elas surgem, de forma a que o aluno possa enquadrar a sua descrição no tempo em que foi criada, para entender a sua importância no desenvolvimento de outras teorias mais recentes que refutam as anteriores. Desta forma não começa logo por achar que a teoria não faz sentido e que esta errada, mas que numa determinada altura representou uma importante linha de desenvolvimento.
A ideia de retirar um qualquer texto e pedir simplesmente para o resumir pode representar uma perda de tempo. O ideal é conseguir obter uma linha de orientação, de forma a conseguir os melhores resumos. O aluno tem que se aperceber do tema debatido e de que forma ele se insere na generalidade da Unidade Curricular. Desperta-se o aluno e consegue-se a sua motivação, muitas vezes é muito importante referências como, comparar, evidenciar vantagens, críticas, semelhanças. Desta forma o aluno identifica o que é mais importante resumir. Isto acontece muito na preparação para exames, onde o professor evidencia pontos de importância. Doutra forma será como um jogo de olhar para a imagem durante dois minutos e depois responder as perguntas, a importância pode ser dada a qualquer coisa, podemos estar a contar os objectos da imagem, e no final as perguntas são sobre cores. Resumindo (lá está) será importante conseguir sempre enquadrar o estudo, e se não forem dadas indicações, devemos pensar sobre o currículo geral da disciplina, do tema em estudo, assim como o enquadramento do texto no livro, se for esse o caso.
3. Identificar a estrutura
subjacente de um texto
A ideia aqui é simples, é mais fácil resumir um texto que se encontre numa estrutura que nos seja familiar. É mais fácil resumir um texto com uma estrutura definida, do que um texto longo em que é difícil estabelecer uma divisão. Por isso o aluno sente necessidade de repartir o texto. Normalmente o autor apresenta o texto numa estrutura organizada, o aluno identifica um padrão e baseia a sua descrição nesse padrão. Ou seja, o aluno identifica a parte em que se descreve uma teoria, onde estão as criticas, vantagens, e aspectos comparativos. A partir desta visão elabora o seu sumário evidenciando os aspectos principais mencionados pelo autor. É com base nesta estruturação que se criam quadros ou esquemas que descrevem a visão do texto. Por exemplo se são descritas duas teorias, apresenta-se cada uma dentro de uma circunferência e ligam-se aos aspectos que as diferenciam ou que as assemelham.
A primeira leitura é o contacto com o assunto, a segunda leitura já é para evidenciar os pontos mais importantes. Aqui é importante transcrever esses pontos e depois atribuir-lhes uma numeração. Isto é, mencionar este primeiro, depois falar neste, agora comparar os dois, e finalmente apresentar as críticas de outros autores. O principal aqui é clarificar as ideias, o que deve ser e onde deve ser, como se vão conectar esses pontos de forma a dar uma continuidade ao resumo. Isto porque o resumo é um texto a ser entendido por quem o lê, e acima de tudo por quem o escreve. O texto não pode ser um imbróglio de ideias organizadas de forma aleatória.
5. Ordem cronológica
Da organização do ponto anterior obtemos uma estrutura que apresenta uma ordem lógica dos acontecimentos. Ideias como, antes, depois, na mesma altura, imediatamente, quando. Estabelecem uma ordem que facilita a compreensão e dá sentido ao texto. Muitas vezes usam-se cronogramas para descrever os acontecimentos e assim acompanhar a evolução destes.
6. Comparar e contrastar
Aqui pretende-se obter as similaridades e as diferenças. Aqui pode-se recorrer ao desenho de um quadro, onde se colocam as teorias e as características, depois é só traçar onde se assemelham e onde divergem.
Na compreensão de um texto obtêm-se a resposta a questões do género: o que acontecia se isto não se verificasse, ou o que muda se determinado ponto for comprovado. Aqui imagina-se uma sequência de balões que ligam num determinado sentido ou noutro conforme a evidência. Isto usa-se muito no diagnóstico médico, são os chamados diagramas de decisão. Onde em função de determinados sintomas o diagnóstico caminha em determinado sentido.
8. Problema Solução
Ao identificarmos uma situação complexa, um conflito seguimos normalmente o processo para a possível resolução. A ideia é idêntica à causa efeito, mas aqui descreve-se o que foi feito para resolver um problema. Quando Arquimedes disse, “Dêem-me uma alavanca e um ponto de apoio e eu moverei o mundo", estava a apresentar uma solução para um problema, levantar corpos pesados, por isso desenvolveu o método da alavanca e da roldana. Aqui a forma de visualizar será colocar numa tabela os pontos que definem o problema e depois liga-los a possível solução, que descreve uma forma de resolver essas dificuldades.
Identificar que tipo de texto estamos a ler. Normalmente um texto expositivo apresenta uma introdução, uns parágrafos de desenvolvimento e finalmente uma conclusão. Mas por exemplo, em textos políticos ou jornalísticos o início e o fim apresentam os argumentos principais (texto persuasivo). É pois importante perceber como se desenvolve o texto e seguir o seu conteúdo. Por vezes consegue-se as pistas através dos títulos e subtítulos evidenciados. Por exemplo na frase “As teorias que fracassaram”, teorias é o tópico, e fracassaram é uma alegação. Certamente as afirmações nem sempre são tão claras, e podem aparecer no meio do texto. O importante é retirar destas expressões o significado principal. Desta forma conseguimos orientar o nosso resumo para os pontos mais importantes. Aqui é importante o treino na obtenção do que normalmente chamamos “tópicos de estudo”, não é mais do que as linhas principais do texto. Como encontrar essas pistas? O treino é uma questão importante, a experiência. Mas existem algumas técnicas, por exemplo, a primeira e a última frase de um parágrafo estão, normalmente, repletas de pistas sobre o que é importante nesse parágrafo. Palavras a negrito ou itálico, são normalmente pistas adicionais, e é importante sempre investigar. Ainda ter em atenção a repetição de palavras e conceitos, ou a escolha de uma imagem de ilustração.
As analogias são muito importantes para a explicação de conceitos. Por exemplo, ao entendermos uma teoria, a forma como se desenvolve e se enquadra podemos descreve-la através de analogias, como por exemplo, determinado ponto é o coração da teoria, ou o seu pilar, ou mesmo evidenciar que determinada característica manifestou-se como um vírus numa pandemia.
11. Ler várias vezes
Um bom resumo exige pelo menos duas leituras. Uma para obter uma visão geral, e outra para salientar o importante. Assim, para chegar ao núcleo do tema, é necessário ter primeiro uma visão generalizada do texto. Por isso começar a resumir logo na primeira leitura pode colocar alguns problemas, como por exemplo, agrupar características menos importantes, ou não evidenciar pontos centrais. As leituras seguintes servem para estruturar os conceitos e agrupar as ideias. Num texto sobre determinadas teorias, podemos cair no erro de começar a descrever pontos que na descrição geral podem ter pouco significado. A visão geral permite focar pontos que ligam as diferentes teorias entre si e de que forma se enquadram no tema debatido. Isto quer dizer que no final da primeira leitura já nos apercebemos da orientação que o autor deu ao texto, e que pontos, ele próprio, usou para partir para uma descrição mais longa.
Já lemos o texto, já percebemos o que descreve, agora só falta começar a tirar notas. Uma forma de interagir com o texto, ou seja, pensar e escrever sobre o texto de forma a iniciar o processo de construção do resumo. É uma forma de quebrar o texto em pequenos pedaços e procurar todos os sentidos. É como construir uma resposta. Para isso por vezes usam-se notações, como por exemplo, colocar vistos em partes que já percebemos e pontos de interrogação em passagens que ainda não percebemos bem. Aqui tiram-se os primeiros conceitos e separam-se as primeiras "palavras-chave", que entendemos serem essenciais para a elaboração da nossa síntese.
13. Perceber o objectivo do resumo
O resumo é uma forma de obter a visão do autor e dos seus argumentos, não é um espaço para opinião pessoal ou crítica. É um processo de sumarização. Mesmo que por vezes se pergunte, “em seu entender qual é o tema do texto”, o objectivo é sempre a procura do que trata o texto, e por isso a nossa interpretação com base nos factos.
Muitas vezes lemos o texto e achamos que não existe outra forma de dizer o que lemos, o autor diz da melhor forma, para que resumir o conceito. Pois aqui encontra-se outro objectivo, o desenvolvimento do vocabulário, a aprendizagem de conceitos. Ao encontrarmos uma palavra e ao tentarmos descreve-la de forma diferente permite-nos perceber a sua aplicação. Nós interiorizamos os conceitos que repetimos, mas só vamos usá-los se percebermos o seu sentido. Sendo assim, o uso de sinónimos é muito importante. Muitos alunos têm dificuldade em elaborar respostas porque não conseguem fazer a ligação entre o pensamento e a palavra correcta. Esta será uma forma de exercitar essa dificuldade. Exteriorizar a nossa compreensão. Por isso se diz "Resumir por Palavras Tuas". As palavras são nossas, sim, mas o conteúdo deve reflectir as ideias do autor do texto.
Bibliografia
Wormeli, R. (2005). Summarization in Any Subject. Virginia: Association for Supervision and Curriculum Development.
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